Continuação...
O ministro, apesar da pouca familiaridade com as questões da EBC, estava indo bem até este momento. Mas como nessa empresa raramente as coisas terminam bem, ele se arvorou a dizer que a EBC era muito importante para melhorar a imagem do governo… comunicação pública? Passou longe! Para o governo progressista que ajudamos a eleger somos tão somente uma Radiobrás de luxo, vocacionada a defender a imagem do governo – coisa que nem os publicitários e marqueteiros da Secom parecem saber como fazer. Esse é um daqueles momentos em que você se pergunta se é melhor ouvir isso ou ser surdo… e confesso que não tenho resposta para essa pergunta. A declaração foi parar nas páginas do jornal “O Globo”, desta vez na coluna de Bernardo Mello Franco:
https://oglobo.globo.com/blogs/bern...ar-ebc-para-recuperar-imagem-do-governo.ghtml.
Esse governo, infelizmente, não entende – ou não quer entender – algo básico: o que disputa hegemonia na sociedade é comunicação pública, não a estatal. É através do jornalismo público e do entretenimento, de bons programas de debates – hoje bem escassos na nossa programação – que vamos conseguir disputar as consciências das pessoas para os valores progressistas que, em geral, são o que leva as pessoas a votar em candidatos progressistas. Isso se chama
soft power. Se não fosse assim, na sutileza, não seria
soft. Mas parece que o pessoal do governo só curte o
heavy power das transmissões de eventos governamentais, que só falam para convertidos. Comunicação estatal é algo destinado a atrair a atenção de um público menor e bem fechado politicamente: os fãs de Lula ou Bolsonaro. Para o restante dos reles mortais, é algo chato e engessado – por mais bem feito que seja, é uma questão de natureza.
Por essa razão, acredito que os trabalhadores da EBC devem avançar para a defesa de que a parte pública da empresa migre para o guarda-chuva do Ministério da Cultura, deixando a parte estatal para a Secom administrar. Assim, fica todo mundo feliz. Na última transição de governo, uma parte de nós tinha receio de assumir essa defesa por medo de que no Minc a gente pudesse ter dificuldade com recursos financeiros. Pois bem: ficamos na Secom e o dinheiro acabou do mesmo jeito. Esse é o destino de todas as áreas de governo enquanto a Faria Lima definir a política econômica do país. Então, se é para ficar sem dinheiro, pelo menos que seja com autonomia, sem dirigismo estatal, com participação social e real empenho em trazer diversidade para a comunicação pública. No Minc, teríamos tudo isso. Casa, comida e roupa lavada. Por mim, eu já arrumava minhas malas hoje mesmo…
Pensa que acabou? Na-na-ni na-não! Acordamos na sexta-feira (6) sob o impacto desta apuração do Lauro Jardim:
https://oglobo.globo.com/blogs/laur...-na-secom-traicao-e-deficiencia-tecnica.ghtml. Imagina a torta de climão na diretoria da EBC… Nosso presidente Jeansley Lima, quando da demissão da única diretora que dialogava conosco, postara em suas redes sociais uma foto com todos os diretores – menos ela – onde se lia “tbt da lealdade, tbt da parceria”. Um ato digno de seu grau de maturidade. Mais que amigos, brothers. Só que a carta da Sabrina deve ter azedado o relacionamento entre os brothers e a cabeça a prêmio da vez parece ser a do Jeansley, que outro dia ganhou uma medalha pelos “bons” (?) serviços prestados na EBC. Não que isso valha tanto assim, né? Comenda por comenda, até o Adriano da Nóbrega, notável miliciano do Escritório do Crime, tinha uma para chamar de sua. Esse tipo de medalha costuma falar mais sobre quem entrega do que sobre quem recebe. Agora, com medalha e tudo, eu apostaria que o clima é de dedo no cu e gritaria depois da eliminação bombástica da BBB Sabrina.
Será que Jeansley se segura depois dessa pataquada? Não sei. Eu, se fosse o Sindônio, demitia toda essa diretoria instagramável e sem nenhum projeto para a EBC e zerava o game, começava tudo de novo. Esse me parece um final mais promissor para a epopeia da semana passada. Seria, de certa forma, uma admissão de culpa por ter montado uma péssima diretoria – mas nesse caso a culpa seria do Secom anterior, Paulo Pimenta, então não vejo grandes problemas. O que não dá é para continuar do jeito que está. A comunicação pública agoniza enquanto cada um dos diretores da EBC brinca com seu brinquedinho predileto: uns com o “Sem Censura”, outros com as redes sociais da empresa, outros de fingir que fazem jornalismo público interrompendo jornal pra colocar coletiva de governo… e assim vamos. Eu sei que na EBC o porvir sempre pode ser pior que o presente, mas se trouxerem uma nova turma de gente problemática, pelo menos serão problemas novos. A ver… a bola está com Sidônio. Tudo pode acontecer… inclusive nada. Mas tomara que aconteça algo.
O mais triste nisso tudo é ver que a diretoria que tinha que ser responsável por uma guinada na comunicação pública capaz de consolidar de vez a EBC não se mostra à altura do desafio. Muito pelo contrário. Desse jeito, se em 2026 a extrema-direita ganha a eleição, lá vamos nós para a berlinda de novo. Não que eu ache que algum governo vá acabar com a EBC, mas o terrorismo desse discurso volta. Nosso apequenamento também. Vão mais uma vez fazer água da missão pública e usar a nossa estrutura – que é respeitável – para fazer propaganda de governo.
Daqui de onde observo, me parece que a grande questão é que Lula e uma parte do “núcleo duro” dirigente do PT desacumularam muito sobre a importância da comunicação pública desde o golpe de 2016. Para eles, a empresa parece ser hoje um elefante branco – ou “estorvo”, nas palavras da ex-diretora demissionária. É como se a EBC não tivesse dado certo – antes mesmo que se esgotasse a tentativa de fazer dar certo, que ocorreu, com avanços e recuos, no período que vai de 2008 a 2016. Honestamente, não sei o que esperavam da empresa. Na conversa com alguns burocratas que passaram por gestões aqui, às vezes se nota um ressentimento muito pouco razoável pelo fato de a EBC não ter impedido o golpe. Mas isso era pedir da empresa algo impossível. E olha que ela foi usada nessa direção, o que nós, trabalhadores e sociedade civil, apontamos lá atrás. Acho injusto culpar a EBC por um impeachment que foi resultado do cansaço da classe dominante diante da conciliação de classes dos governos petistas. Eles queriam a “ponte para o futuro”, e conseguiram diante de um governo que, acuado, fez a política econômica derrotada na eleição. Quando precisou de mobilização popular para defender seu mandato, Dilma não a teve. “Eu vejo o futuro repetir o passado”. Não sei por que estudamos História se ninguém aprende nada com ela…
Aí o Lula, que depois da injusta cadeia que pagou poderia ter desacreditado de tanta coisa, foi desacreditar justo da EBC. Poderia ter desacreditado da conciliação de classes num cenário em que nossa classe dominante disse com um golpe que não havia espaço para conciliar… poderia ter desacreditado de que é possível governar em tempos de extrema-direita forte e orçamento secreto da mesma forma que em 2010… poderia ter desacreditado das propostas econômicas que levam seu governo a implementar a política econômica dos derrotados na eleição, como fizera Dilma… seria ótimo se o presidente tivesse desapegado desses credos nefastos. Mas não: ele desacreditou da comunicação pública. Sei que seu entorno não ajuda e que tem até gente da diretoria da empresa que diz que a EBC só dá problema e deveria ter sido extinta – mas essas próprias figuras não abrem mão dos carguinhos, altos salários e bônus de diretoria, né? Enfim… acho – só acho – que Lula deveria desconfiar um pouco desse tipo de narrativa, ainda mais considerando o grau de cara-de-pau dos mensageiros, que dizem que a empresa é um problema, mas seguem se locupletando com suas vantagens. Mas quem sou eu na fila do pão para achar alguma coisa, né?
Fonte:
https://ouvidoriacidadaebc.org/tres-dias-abalaram-ebc/