YouTube avança sobre a TV aberta e já é vice-líder de audiência
O YouTube teve um ano histórico. Nos Estados Unidos e no Brasil, a plataforma de vídeos do Google viu sua audiência se consolidar de forma vigorosa. Por aqui, se apresentou como novo rival da Globo e fechou 2024 com uma vitória surpreendente (e humilhante): sua diretora na América Latina, Patrícia Muratori, suplantou Paulo Marinho, diretor-presidente da Globo, numa das principais categorias do Caboré, o "Oscar" do mercado publicitário nacional.
Chama a atenção que o consumo de YouTube tem avançado justamente no terreno dominado pela TV linear, o dos aparelhos televisores, que costumam estar no centro dos lares brasileiros, e que estão cada vez mais conectados à internet. O YouTube cresceu 21% nos últimos 12 meses, de acordo com dados do CPV (Cross Platform View), painel de audiência de TV aberta e de plataformas online no ambiente doméstico.
O Youtube tem atualmente 11,9% da audiência dos televisores. Já deixou para trás o SBT (9,4% em novembro) e está no calcanhar da Record (14,1%). A Globo ainda reina na sala de estar, mas vem perdendo mercado desde a estreia da novela Mania de V·ocê. Sua participação era de 40,8% em agosto (reta final de Renascer), caiu para 40,3% em outubro e chegou a 39,4% no mês passado.
Se fosse uma rede de TV· aberta, o YouTube estaria hoje disputando a vice-liderança nos televisores. E se considerar todo o consumo de vídeo dentro das residências, incluindo smartphone e tablet, a plataforma de vídeo já é vice-líder com folga. Nessa medição, saltou de um patamar de 15% em janeiro de 2022 para 18,5%, enquanto a Globo caiu de 36,9% para 34,5% na média anual. A Record detém 12,1% da atenção e o SBT, 8%.
Quase um quinto do tempo em que as pessoas permanecem diante de uma tela em suas casas é para ver conteúdo disponível quase sempre de graça no YouTube, que sozinho absorve mais da metade da audiência das plataformas online, que totalizou 31,2% em novembro. O YouTube tem quatro vezes o share da Netflix (4,6%) e do TikTok (4,4%) -- o Globoplay, apesar de ter dobrado o tamanho nos últimos dois anos (principalmente após ser oferecido de graça para os assinantes da operadora Claro, a maior do país), ficou com uma fatia de apenas 1,4%.
O sucesso do YouTube já tem forte impacto no mercado publicitário. No segundo trimestre deste ano, pela primeira vez a mídia digital
abocanhou mais verba de anunciantes do que a TV aberta (não há dados oficiais do faturamento do Google no Brasil, mas estima-se que supera R$ 20 bilhões anuais, mais que os R$ 16 bilhões da Globo).
Isso deixou os bastidores nervosos. Em abril, a então CEO da Kantar Ibope, Melissa V-ogel, foi demitida em uma rebelião das emissoras
liderada pela Globo. As redes abertas acusaram a executiva de produzir uma nova ferramenta de planejamento de investimento publicitário que favoreceria o YouTube.
Em outubro, novas faíscas irromperam. Ao festejar a compra de parte dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro a partir de 2025, rompendo o monopólio da Globo, o Google anunciou que já havia mais gente "assistindo ao YouTube durante a semana do que em cada uma das cinco principais emissoras de TV aberta no país". A Globo e a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão) reagiram. Acusaram o YouTube de manipular dados de uma pesquisa de tendência de comportamento com painéis de medição de audiência.
Para coroar o ano do YouTube, no último dia 4, sua principal executiva na América Latina venceu Paulo Marinho, neto do fundador da Globo, na disputa pelo prêmio de dirigente da Indústria de Comunicação do ano do Caboré, entregue há 45 anos pelo Meio&Mensagem. Como quem vota no Caboré são profissionais da propaganda, o mercado deu um claro sinal de que está atento ao crescimento do Google e aos tropeços da Globo.
[Notícias Na TV - Daniel Castro]
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