Filmes americanos podem ser proibidos como retaliação às tarifas impostas por Trump
A tensão entre China e Estados Unidos pode atingir em cheio um setor até então protegido da guerra comercial: o entretenimento. E não é qualquer entretenimento.
Hollywood, a indústria cinematográfica mais poderosa do mundo, pode ver seus filmes banidos dos cinemas chineses em uma medida drástica de retaliação política.
Por enquanto, a exportação de filmes escapava das tarifas de Trump, pois eram considerados serviços, não produtos. Mas o cenário mudou drasticamente.
De acordo com o site Exame, figuras influentes do governo chinês começaram a defender publicamente a suspensão da importação de filmes americanos, algo que pode ser implementado a qualquer momento.
O estopim dessa possível retaliação foi o anúncio dos EUA de tarifas de 54% sobre todos os produtos chineses. Em resposta, os chineses cogitam aplicar sanções mais simbólicas e midiáticas.
Entre elas, cortar o acesso de Hollywood ao segundo maior mercado cinematográfico do mundo.
Essa possibilidade ganhou força após declarações de dois influentes blogueiros chineses, com fortes ligações ao governo: Liu Hong, da agência estatal Xinhua, e Ren Yi, neto de um ex-líder do Partido Comunista.
Ambos afirmaram que autoridades locais estão debatendo “ativamente” o bloqueio de filmes americanos.
A movimentação é estratégica. Hollywood sempre teve espaço limitado nos cinemas chineses. O governo de Pequim controla rigidamente a entrada de produções internacionais, permitindo apenas 34 lançamentos estrangeiros por ano, com fatias reduzidas da bilheteria para os estúdios ocidentais.
E, mesmo com esse acesso limitado, a presença americana vem diminuindo ano após ano. Em 2018, 60 filmes de Hollywood foram exibidos na China. Já em 2022, apenas 15. Houve uma leve melhora em 2023 e 2024, com 35 e 31 títulos respectivamente, mas a tendência geral é de queda.
Enquanto isso, os filmes chineses dominam as bilheteiras. Em 2024, mais de 80% da arrecadação veio de produções locais. O fenômeno Ne Zha 2, por exemplo, arrecadou US$ 1,69 bilhão, ultrapassando até Divertida Mente 2, da Pixar.
Hollywood, que já depende do mercado internacional para compensar bilheterias domésticas em queda, vê a China como peça essencial. E perder esse mercado pode ter um impacto financeiro severo.
Mesmo grandes produções como A Minecraft Movie sentiram o baque: arrecadou apenas US$ 14,5 milhões na China, frente aos US$ 144 milhões totais. Já Godzilla x Kong: The New Empire salvou a honra, com US$ 132 milhões só no mercado chinês.
Ainda assim, a situação é de alerta máximo em Los Angeles. Sem a bilheteria chinesa, muitos blockbusters podem se tornar prejuízos milionários.
Entre os filmes americanos que ainda tiveram destaque recente na China estão Transformers: O Despertar das Feras (2023), que arrecadou US$ 97 milhões; Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 (2023), com US$ 51 milhões; Barbie (2023), que conquistou aproximadamente US$ 36 milhões; e Jurassic World: Domínio (2022), o maior sucesso recente, com uma bilheteira de US$ 120 milhões no país.
O futuro de Hollywood na China está em risco. E, se o banimento for confirmado, o impacto pode ser devastador para os estúdios americanos.